Entregas em uma hora: análise do impacto logístico
Hoje em dia existe uma determinada gama de produtos e de pessoas que estão disponíveis para pagar mais por uma entrega na hora seguinte. O que precisa de ser ajustado para que tal aconteça?
Estamos a viver tempos fantásticos de grandes mudanças na forma como compramos tudo aquilo que necessitamos. Há pouco mais de 30 anos abriam grandes supermercados e centros comerciais onde todos faziam romaria para os visitar. Era uma opção de compra como as comunidades nunca tiveram e sem dúvida o futuro daquela época. Passados 30 anos tudo muda e o que parecia uma grande inovação começa a deixar de fazer sentido. Com a internet massificada e o comercio online a ser cada vez mais a plataforma de compra e venda, as pessoas têm todos os produtos e leque de opção dentro do seu computador ou telemóvel. Fazer deslocações a centros apenas para ir buscar os produtos que já foram vistos e consultados online, também é algo que cada vez menos a pessoas estão dispostas a fazer e que, para além disso, resulta numa grande ineficiência de recursos.
Figura 1- Exemplo de uma possível unidade logística urbana (Armazém Amazon em Tourtdale Jason E. Kaplan)
Para que uma opção de compra online e entrega em casa resulte e seja generalizada no mercado, é necessário dar opções de entrega rápidas, o que inclui ume entrega na próxima hora. Num estudo elaborado pela Mckinsey em 2013, uma grande parte das pessoas já estavam disponíveis para pagar mais por uma entrega no mesmo dia. Hoje em dia existe uma determinada gama de produtos e de pessoas que estão disponíveis para pagar mais por uma entrega na hora seguinte. O facto deste tipo de entregas ser já possível em algumas cadeias e algumas zonas do mundo, aliado ao aumento progressivo do poder de compra das pessoas, faz com a entrega em 1 hora seja o que o consumidor espera ter dentro de pouco tempo, sempre que faz uma compra online.
Mas afinal o que necessitamos de mudar para ter entregas em 1 hora?
Sem dúvida que ter os produtos perto das comunidades urbanas, onde se espera que continue a viver a grande maioria da população e transportá-los de forma rápida até elas, são as bases das entregas rápidas. Para isto são necessárias muitas mudanças, principalmente em meios urbanos que foram concebidos para as pessoas se deslocarem em cavalos e carroças, como é grande parte da Europa.
Para colocarmos os produtos mais próximos das pessoas necessitamos de ter grandes hubs logísticos muito próximo das zonas urbanas. Devido à grande densificação da malha urbana e à quantidade de imobiliário sem utilização, a conversão de espaços e infraestruturas em unidades logísticas, será com certeza a melhor opção de aproximação dos produtos às pessoas. Os shoppings e hipermercados começam a ser locais capazes de cumprir essa função e em vez de serem pontos de venda ao público passam a ser pontos de distribuição às cidades. Claro que para isso não é apenas necessário ter unidades logísticas grandes e bem localizadas como também é necessário ter unidades logísticas muito rápidas, onde a entrada e saída de produtos se desenrola em minutos.
Figura 2 - Imagem satélite de Lisboa onde é possível ver a azul os principais centros de distribuição logística perto da cidade e a vermelho os maiores centros comerciais na cidade
O que é necessário para termos produtos espedidos em minutos?
- Digitalização completa das unidades logísticas de forma a que um pedido realizado por um consumidor online seja diretamente transmitido a todos as pessoas e equipamentos na unidade logística;
- Máximo de robotização dentro da unidade para que os produtos se encaminhem de uma forma direta e sem filas de espera até aos transportes;
- Redundância para que exista sempre formas alternativas de movimentação de cargas, sem que a ocupação da unidade tenha impacto nos tempos de transporte internos.
A simulação realizada pela Slefty permite compreender qual o impacto da unidade logística nos tempos de entrega dos produtos, para vários cenários de exploração.
O transporte dos produtos é outra das fases de entrega que necessitam de grandes melhorias, face ao que existe atualmente, para que as entregas em 1 hora sejam massificadas. A introdução de veículos de condução autónoma no mercado irá permitir reduzir os custos dos transportes e aumentar a taxa de utilização dos mesmos, mas enquanto estes circularem pelas estradas o fator de imprevisibilidade do tempo gasto estará sempre presente. Para isso não acontecer é necessário criar vias alternativas para transporte de carga principalmente pelo ar ou por debaixo de terra.
A Amazon tem realizado diversos desenvolvimentos nesta área, principalmente no que diz respeito ao transporte aéreo de carga. Desde a utilização de veículos aéreos como hubs logísticos até à criação de bases logísticas para distribuição com drones, tudo isto são coisas já pensadas e, algumas delas, já testadas no terreno.
Figura 3- Patente Amazon
O transporte subterrâneo é outra alternativa e possivelmente tão ou mais viável que a alternativa aérea. A construção de corredores subterrâneos de circulação de mercadorias entre os hubs logísticos e as pequenas comunidades urbanas é algo bastante eficaz para a colocação dos bens perto das pessoas. Não será possível uma entrega porta a porta, mas será possível uma entrega a escassos minutos a pé. Esta é também uma das soluções onde algumas empresas já se encontram a trabalhar, como é o caso da CargoCap e Cargo Sous Terrain. Um dos desafios deste tipo de transporte seria encontrar forma de nunca circular em vazio, fazendo com que cada vez que se levassem produtos, se trouxesse algo. Uma forma disso acontecer seria aliar o transporte de carga ao transporte de resíduos urbanos, criando assim também uma rede subterrânea de transporte de resíduos, em funcionamento simultâneo com a carga. Para isso seria necessário ter centros de tratamento de resíduos próximo das unidades logísticas de apoio aos meios urbanos.
Figura 4 - Conceito de transporte subterrâneo da empresa Cargo Sous Terrain
Não podemos continuar a olhar para a logística como grandes armazéns que servem de base ao transporte de mercadorias por camião. Para satisfazermos as exigências do consumidor moderno, o transporte de mercadoria deve-se reinventar, tal como está a acontecer com a forma como as pessoas compram produtos. Na Slefty continuamos a delinear o futuro e a capacitar as empresas que pretendem construir novas unidades logísticas.
Fontes:
Revitalising the 20th Century. Why the Future of Logistics Could Be Through Repurposing the Past: https://www.p3parks.com/whats-new/visions/revitalising-the-20th-century-why-the-future-of-logistics-could-be-through-repurposing-the-past